Vacina covid e viagens de negócios: o caminho de regresso a uma viagem segura


A vacina contra a covid-19 é a grande esperança do planeta para travar a pandemia e, com ela, a contração económica. O sector das viagens de negócios, um dos mais afetados pelas restrições aplicadas para conter os contágios, aguarda com esperança (e com cautela) os efeitos positivos da vacinação, para viajar de forma segura e, assim, conseguir uma reativação das viagens corporativas.

O impacto da vacina contra a covid-19 no sector do business travel num extenso estudo que resumimos aqui.

 

No final deste ano 90% dos viajantes prevê viajar com normalidade.

A vacina contra a covid-19 é a grande esperança do planeta para travar a pandemia e, com ela, a contração económica. O sector das viagens de negócios, um dos mais afetados pelas restrições aplicadas para conter os contágios, aguarda com esperança (e com cautela) os efeitos positivos da vacinação, para viajar de forma segura e, assim, conseguir uma reativação das viagens corporativas.

 

Vacina covid e viagens de negócios: um impulso necessário

Que a covid-19 foi um grande fator disruptivo nas viagens é uma realidade indiscutível para o sector. Já passaram mais de nove meses desde que a Organização Mundial de Saúde declarou a pandemia e, em todo este tempo, as viagens apenas se recuperaram a níveis muito baixos.

Ainda assim, um questionário realizado a mais de 700 viajantes de negócios no final de 2020 reúne dados promissores:

  • Menos de 15% dos viajantes de negócios estão a viajar com regularidade.
  • 16% espera começar a viajar novamente durante o primeiro trimestre de 2021, 30% espera o mesmo no segundo trimestre.
  • A meio de 2021, quase 60% dos viajantes voltarão a viajar com regularidade. E no final de 2021, este número poderá estar acima dos 90%.

Quais são os requisitos necessários para que se produza efetivamente este retorno às viagens de negócios? A vacinação ampla e efetiva é um dos grandes fatores, mas podem citar-se mais quatro:

  • O fim ou o abrandamento dos bloqueios internacionais.
  • Testes disponíveis antes da saída e chegada dos viajantes aos aeroportos e através das companhias aéreas.
  • Os passaportes de saúde digitais.
  • Os corredores de viagens introduzidos entre mercados internacionais chave.

 

Como ajudará a vacinação às viagens de negócios

A vacinação global pode demorar de dois a quatro anos e pode ser necessária uma renovação anual. As economias avançadas poderão vacinar adequadamente as suas populações dentro de um ano, inclusive é possível que se solicite uma prova de vacinação para algumas viagens internacionais.

Porém, é pouco provável que todos os países tenham igual acesso à vacina, por motivos como, os problemas logísticos que colocam algumas vacinas e, também, as diferenças econômicas entre os diversos países. Os países mais ricos conseguirão taxas de imunização significativas primeiro que os restantes. Mais ainda, a empresa farmacêutica indiana Zydus Cadila afirma que poderia levar até quatro anos a vacinar a população mundial contra a covid-19.

Para conseguir uma cobertura global, as vacinas devem ser eficazes e acessíveis. Este é o papel que o COVAX desempenha, o Fundo de Acesso Global para Vacinas Covid-19, uma aliança público-privada que tem como finalidade garantir o acesso equitativo às vacinas com maior potencial para a sua fabricação a grande escala, com estabilidade de temperatura e produção de baixo custo.

Ter acesso a uma vacina viável, considera-se o catalisador mais importante para promover o reinício das viagens. Essa é a opinião dos viajantes de negócios questionados no final de 2020. As vacinas obtiveram 55% mais de respostas que as seguintes opções: a facilidade das viagens nacionais e locais, as restrições e as melhoras no tratamento da covid-19.

Mas os viajantes de negócios terão que esperar para vacinar-se. Os planos de vacinação priorizam membros mais vulneráveis e trabalhadores de saúde, o que supõe que os viajantes podem ter dificuldades para vacinar-se por sua conta em clínicas privadas, já que as doses disponíveis estão à disposição dos Estados para os programas de saúde pública.

No futuro, além de um resultado negativo no PCR, é possível que os viajantes tenham que demonstrar que receberam a vacina contra a covid-19 antes de lhes ser permitido viajar a determinados destinos. Isto irá requerer um acordo internacional sobre a aceitação de cada indivíduo que poderia levar algum tempo. É possível que alguns Governos não aceitem determinadas vacinas (por não serem suficientemente eficazes). É por isso que, passará algum tempo, antes de que a vacina possa dar lugar a tempos de quarentena reduzidos e a maior liberdade de viajar.

Em qualquer caso, a possível demora da vacina pode supor um problema para os viajantes de negócios internacionais. Por exemplo, a companhia aérea australiana Qantas faz da vacinação um requisito para poder viajar. O diretor executivo desta companhia aérea, Alan Joyce, deixou claro que a vacinação será um requisito para qualquer pessoa que tente abordar um dos seus serviços internacionais, uma vez que esteja disponível uma vacina segura e eficaz. E não será a única companhia aérea a implementar esta política: David Powell, assessor médico da IATA, crê que outras companhias aéreas, especialmente as de países com níveis baixos de transmissão de covid-19, seguirão a Qantas e irão requerer uma prova de vacinação. Segundo Powell isto só poderia suceder uma vez que a vacina esteja amplamente disponível, algo que a IATA não espera até meados de 2021.

Ainda é provável que mais de 70% dos viajantes corporativos se vacinem, aproximadamente 4% não se vacinará e políticas como a de Qantas dificultarão as suas deslocações.

Em qualquer caso, enquanto chega a vacinação ampla e efetiva, os viajantes de negócios devem ter em conta outras estratégias para reduzir a propagação da doença: a distância social, o uso da máscara, os testes e as quarentenas vão acompanhar-nos algum tempo.

 

A flexibilização das restrições de mobilidade

As reduções das restrições dependem da melhoria dos novos casos diários de covid-19 em cada país. E, neste sentido, os novos contágios serão consequência das reuniões familiares de Natal podendo ter maior incidência nas primeiras semanas de 2021.

Não obstante, as restrições de viagens de negócios estão a diminuir. Dos 217 destinos globais rastreados pela Organização Mundial de Turismo (OMT) no seu relatório sobre restrições de viagem, 152 tinham aliviado as restrições ao turismo internacional a partir de novembro. Isto supõe uma melhoria em comparação com os 115 registados a 01 de setembro. O número de destinos que mantiveram as suas fronteiras internacionais fechadas, diminuiu de 93 para 59 no mesmo período. Agora: há que ter em conta que estes números foram publicados antes do segundo pico da covid-19 na Europa.

É expectável que as restrições de mobilidade não sejam tão exaustivas em 2021. Ainda assim têm sido eficazes para controlar os contágios, o cansaço que provocam os confinamentos na população pode começar a tornar-se um contra, ainda devemos considerar o duro golpe que supõe para as economias nacionais. Neste sentido, a eficácia da vacina será a chave.

 

Testes anti-covid para viajar

Até que a vacina esteja amplamente disponível para toda a população, os testes podem ser a melhor maneira de reiniciar as viagens de maneira segura. Os aeroportos e as companhias aéreas estão a ajudar o aumento da disponibilidade de testes à saída e à chegada para auxiliar a reduzir ou eliminar os períodos de quarentena.

Os viajantes não parecem ter reticências à ideia de fazer o teste. Num questionário realizado pela Travel Again, um grupo na defesa do sector de viagens, 70% dos viajantes de negócios dos EUA indicaram estar dispostos a realizar múltiplos testes de covid-19 antes e durante a viagem e partilhar os seus resultados, para deste modo poder reiniciar as viagens sem restrições.

Os testes, contudo, colocam o risco de uma viagem interrompida, se um passageiro recebe um resultado positivo em qualquer parte da viagem, o que leva a diversos inconvenientes. Que lhe digam para regressar a casa depois de um resultado positivo no aeroporto antes da saída é possivelmente melhor que ter de lidar com as consequências de receber um resultado positivo ao chegar de um país estrangeiro.

Os aeroportos estão a fazer testes para evitar a importação de casos de covid-19. É o caso dos aeroportos na China, o do aeroporto Internacional de Hong Kong, ainda que os testes sejam normalmente pagos pelos próprios passageiros e em alguns casos não excluem um período de quarentena. Em todo o caso, os viajantes de negócios têm que ter em conta que os tempos de gestão e de espera antes do embarque aumentaram por estes e outros trâmites, de maneira que deverão prevê-lo nas agendas de deslocações.

As companhias aéreas também estão a fazer testes, com custo adicional para os viajantes. Assim fazem algumas companhias aéreas dos EUA, tanto para as viagens desde o continente até ao Havaí e Alasca como para que os viajantes de voos transatlânticos não tenham de fazer quarentena ao chegar à Europa.

 

Tipos de testes covid-19

RT-PCR, RT-LAMP, antígeno rápido ou anticorpos? Com uma oferta variada de testes, sejam eles testados por um aeroporto ou companhia aérea, os viajantes devem confirmar que tipo de teste e que certificado devem apresentar para viajar, dependendo do destino:

  • Teste de antígeno: uma amostra do trato respiratório é usada para detetar proteínas virais (antígenos). Pode ter o resultado em cerca de 30 minutos. A infeção real só é detetada em estágios agudos ou iniciais.
  • RT-PCR: deteta a presença de RNA (ácido nucleico) em uma amostra do trato respiratório. Um resultado negativo pode ser interpretado como ausência de infeção ativa, mas também pode ser um falso negativo se foi recolhida uma amostra insuficiente ou se a amostra foi recolhida no início do período de incubação.
  • Teste de anticorpos: mede as proteínas imunológicas produzidas pelo corpo especificamente para antígenos virais. Os anticorpos IgM medem imediatamente uma resposta ao longo dos dias. Os anticorpos IgG medem uma resposta de longo prazo de semanas a meses. Não se sabe ao certo se esses anticorpos são realmente protetores e por quanto tempo.
  • Teste LAMP: desenvolvido pela University of Oxford, pode ser processado rapidamente e sem ser enviado a um laboratório. Mede o ácido nucleico (RNA) durante a fase aguda da infeção. É semelhante a um teste de PCR.

 

Passaportes de saúde digitais

Saber se um viajante está infetado ou não é a chave para facilitar a sua mobilidade. Por isso o passaporte digital de saúde pode ser a chave para verificar o estado de saúde dos viajantes e garantir assim viagens de negócios seguras.

Para que os passaportes de saúde digitais sejam uma ferramenta de sucesso, afirma a IATA que devem habilitá-los:

  • Os Governos, para verificar a autenticidade dos testes e a informação da identidade do viajante.
  • As companhias aéreas, para fornecer informação precisa aos passageiros sobre os requisitos de testes e verificar que estes estão cumpridos.
  • Laboratórios de emissão de certificados digitais, para serem reconhecidos e aceites pelos governos.
  • Viajantes, para aceder a informação precisa sobre os requisitos de testes, lugares de realização dos mesmos, vacinação e comunicar informação às companhias aéreas e às autoridades fronteiriças.

Desde a perspetiva de um viajante, os dados serão o problema mais crítico para uma adoção dos passaportes digitais de saúde de sucesso. Mais importante ainda, os seus dados pessoais devem ser protegidos e deverão ser corretos. Os passaportes deverão também ser fáceis de usar, para que o viajante possa assegurar-se de que toda a informação foi atualizada e aceite globalmente.

Até à data, pelo menos quatro aplicações diferentes encontram-se em várias etapas de desenvolvimento:

  • ICC AOKpass: Lançada em junho de 2020 pela Câmara de Comércio Internacional (ICC) e pelos serviços médicos e de segurança internacionais SOS, com suporte da tecnologia blockchain. Já é usada para viajar entre Abu Dhabi e o Paquistão.
  • VeriFLY® – Produzida pela empresa de garantia de identidade Daon, o aplicativo VeriFLY foi projetado para ajudar os viajantes a entender os requisitos covid-19 no seu destino e agilizar o check-in no aeroporto, verificando digitalmente se foram cumpridos os requisitos.
  • CommonPass: desenvolvida pelo Projeto Commons da Fundação e Fórum Económico Mundial, com sede na Suíça, permite que os indivíduos demonstrem seu estado de saúde enquanto protege a privacidade de seus dados. Cathay Pacific e United Airlines já testaram o CommonPass em voos de Hong Kong, Londres, Nova York e Singapura. JetBlue Airways, Lufthansa, Swiss e Virgin Atlantic estão entre as outras companhias aéreas que já se inscreveram no aplicativo, que também é apoiado pelo Airports Council International (ACI), uma organização que representa 2.000 aeroportos.
  • TravelPass: A IATA está a desenvolver esta aplicação em parceria com a IAG, a empresa-mãe da Aer Lingus, British Airways, Iberia, Level e Vueling. A TravelPass está na sua fase final de desenvolvimento e deve estar disponível para dispositivos Apple no primeiro trimestre de 2021 e para Android a partir de abril. O TravelPass mostrará os resultados do teste de inoculação, detalhes dos padrões de entrada nacionais e os locais dos centros de teste mais próximos. Também está vinculado a uma cópia eletrônica do passaporte do usuário para comprovar sua identidade.

Além dos passaportes de saúde digitais, vários países já implementaram aplicativos móveis de seguimento e rastreio para notificar rapidamente os usuários sobre qualquer exposição ao COVID-19. Esses aplicativos podem ajudar a reduzir a propagação de doenças, proteger a comunidade e aliviar a carga dos profissionais de saúde.

O uso destes aplicativos costuma ser voluntário, mas a obrigatoriedade é crescente, principalmente na Ásia, onde os países começam a abrir suas fronteiras para visitantes do exterior.

 

Os corredores de viagem

No início da pandemia, os corredores de viagem ou ‘corredores’ eram uma ferramenta útil para viajar entre dois países com taxas de infeção baixas ou controladas. Eles têm sido usados ​​principalmente na Ásia-Pacífico, mas também foram estabelecidos corredores seguros em Espanha para ligar as Ilhas Baleares e Canárias à Europa.

Viajar por um corredor está frequentemente sujeito a regras e condições rígidas, como apresentar um teste COVID-19 negativo ou limitar as atividades ao mínimo no destino. A grande vantagem é que, em geral, os períodos de quarentena para o viajante são eliminados.

A abordagem mais comum adotada pela União Europeia (EU) classifica os estados membros numa escala de quatro cores com base nas taxas de notificação covid-19, testes de positividade e testes. Os viajantes que chegam de áreas verdes não devem enfrentar restrições; os provenientes das áreas laranja e vermelha podem ser colocados em quarentena, auto-isolamento ou testados para COVID-19 antes de viajar ou no regresso. Cabe a cada Estado membro decidir sobre as restrições aplicadas aos viajantes provenientes desses países. As informações sobre que Estados membros aplicam quais medidas podem ser encontradas no site Re-open EU.

Os países que figuram nas listas seguras mudarão à medida que as taxas de infeção aumentam e diminuem, portanto, os viajantes devem verificar o estado do seu destino antes da partida. Países podem ser adicionados ou retirados das listas de corredores num curto espaço de tempo, aumentando a incerteza e o risco de interrupções nas viagens.

Dada a possibilidade de realizar testes rápidos antes da partida e na chegada das viagens, os corretores de viagens podem perder a sua atratividade como uma ferramenta útil para permitir e gerir viagens internacionais seguras.

Em conclusão, o início da vacinação contra covid-19 é uma boa notícia para o setor das viagens de negócios, mas é importante ter em mente que o real impacto nestas viagens só será visto alguns meses depois, quando uma boa percentagem dos viajantes corporativos estiverem vacinados.

É provável que a vacina seja um requisito para viagens e, à medida que se espalha, corredores de viagem, passaportes de saúde digitais, testes e aplicativos de seguimento e rastreio continuarão a ser uma obrigação para garantir uma mobilidade segura.

Todos os itens acima requerem informações atualizadas e consultoria constante e especializada. É a nossa proposta de valor acrescentado: o smart business travel que nos torna diferentes.